O Perigo de Estrapolar o Registro Vocal

As cordas vocais são músculos e como tais precisam obedecer um limite pré determinado de esforço.

É comum se ver no meio Gospel cantores que não possuem repertório próprio,  fazerem uso de playback's sem coincidir com o registro do cantor oficial. Essa prática é um risco enorme não apenas do ponto de vista musical, mas também fisiológico.

Vejamos então do ponto de vista musical: se cantarmos uma música diferente da nossa tessitura vocal, não estaremos praticando o canto com a naturalidade necessária, logo a música perde em beleza e quem nos assiste pode perceber a artificialidade, sem falar na questão do resultado sonoro, que se tornará algo desagradável ao ouvido. 

Há uma cultura, não apenas no segmento Gospel, mas também no Secular, que o cantar bem está atrelado a extensão vocal. Isso é um grande erro! Cantar bem pressupõe-se passar de uma nota para outra, observando seus intervalos, dinâmica, fraseado, interpretação, afinação, intensidade, ritmo, enfim, uma série de questões que envolvem a prática, mas com naturalidade.  

A tonalidade da canção pouco importa, pois ela não é determinante para a beleza da mesma. Se um determinado cantor alcança notas mais agudas (ou graves) do que eu, mas com naturalidade, não posso querer ser natural cantando na mesma tonalidade dele.

Do ponto de vista fisiológico vamos analisar da seguinte forma: imagine seu corpo podendo suportar uma carga de 50kg e você dobrar ou triplicar esse peso. Em algum momento o seu corpo não aguentará e algum músculo romperá.

Com as cordas vocais acontece o mesmo, pois sendo elas músculos, com certeza haverá um limite para a "pressão" imposta. Com isso, o tempo de vida útil das suas cordas vocais irão diminuir consideravelmente, além da possibilidade de aparecimento de calos, nódulos  ou rouquidão que não seja natural. Portanto, se faz necessário um cuidado especial nesse aspecto.

A extensão vocal está diretamente ligada ao alcance da voz que se tem dentro de uma determinada escala musical. Tanto para o agudo, como para o grave, é necessário se ter consciência que a parte fisiológica da voz não está sendo prejudicada.

O ideal é trabalhar esses extremos com saúde, pois se cantar numa extensão além do normal é prejudicial, o mesmo vale para os sons graves. Desse modo, o aconselhável para cada vocalista é fazer um teste de classificação vocal, mesmo que não se cante em um coro lírico, pois é importante saber quais os reais limites de nossa voz. 

Por Marco Acosta - Diretor Musical (OMB 34181)

"Marco Acosta é graduado no curso de Licenciatura Plena em Música com Habilitação em Canto, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel),  e possui cursos específicos nas áreas de Rêgencia,  Arranjo e Técnica Vocal" .